O turismo é um dos pilares da
economia mundial, facilitador e impulsionador da globalização. Na União
Europeia (UE) representa cerca de 10.4% do Produto Interno Bruto,
correspondendo a 6% das exportações e sendo suporte para 26 milhões de empregos
(9% do total da UE). A sua importância estratégica na economia mundial tem sido
evidenciada pelos efeitos devastadores provocados pela quebra de receitas no
setor turístico à escala global e, sobretudo nos países fortemente dependentes
desta atividade (como Portugal), resultante dos impactes da pandemia de
SARS-COV-2 (COVID-19).
A própria Organização Mundial do
Turismo (OMT) apontou 2020 como o “pior ano da história do turismo mundial”,
traduzindo-se num recuo de 74% da chegada de turistas internacionais, em
relação a 2019, com perdas superiores a 1.3 triliões de dólares para a economia
mundial.
Estes indicadores adquirem uma
expressão mais vincada, na sequência das preocupações levantadas pela OMT
(2021), que considera estarem em risco 100 a 120 milhões de empregos diretos, a
maioria em pequenas e médias empresas, que representam cerca de 80% das empresas
de turismo em todo o mundo, e que são fundamentais para a criação de emprego e
de outras oportunidades para mulheres, jovens e comunidades rurais.
Para muitos territórios, em
especial para os de matriz rural e/ou de montanha, a atividade turística tem
sido encarada como uma “tábua de salvação”. Em resultado da estruturação de
oferta ancorada nos seus recursos inimitáveis dos patrimónios (natural,
cultural e paisagístico), a aposta nos segmentos de touring cultural e
paisagístico, turismo de natureza e ativo têm assumido um papel preponderante
nos seus processos de desenvolvimento. Mas é, também, inevitável que
possamos fazer uma análise profunda do caminho que devemos seguir. Uma aposta
consistente na estruturação e capacitação de equipamentos, infraestruturas,
atores e estratégias que promovam os destinos nos segmentos compatíveis com
atividades de low carbon tourism e que, em simultâneo, sejam capazes de
gerar experiências turísticas diferenciadoras, criativas, imersivas e de grande
valor simbólico, integradas no espírito do slow tourism, deverão ser
privilegiadas em detrimento de modas passageiras que, alimentadas por redes
disruptivas (em muitos casos), não são geradoras de mais-valias diretas para os
territórios.
O momento atual, ainda que
marcado pela incerteza e desconfiança, deve ser encarado como um importante
ponto de viragem, de análise das tendências dos principais mercados emissores
(sobretudo daqueles que permitam uma maior rentabilidade económica, em harmonia
com os princípios da sustentabilidade), de qualificação da oferta e valorização
dos ativos diferenciadores dos territórios, em especial dos recursos humanos
que suportam a atividade turística.
A sustentabilidade do sistema
turístico apresenta um reflexo direto nos destinos e na sua notoriedade, sendo
cada vez mais um importante critério que pesa na escolha final por parte dos
turistas.
Num cenário ideal, será vital
conciliar as expectativas dos turistas e as suas experiências com a qualidade
de vida das populações residentes, criando condições favoráveis para a
obtenção de receitas justas pelos serviços e bens que concedem ao sistema
turístico; em equilíbrio com os ecossistemas, respeitando os biótopos mais
vulneráveis, e contribuindo de forma direta para a conservação da natureza e da
biodiversidade; ancorada em estratégias de planeamento capazes de responder aos
desafios que, a cada momento, se colocam.
Centrando análise na Serra da Lousã,
o cumprimento destes desígnios será vital para um processo de desenvolvimento
sustentável, duradouro no tempo e respeitador dos limites da capacidade de
carga do território. No caso concreto da atividade turística no concelho da
Lousã, à qual a Activar tem dedicado esforços e assumido um papel ativo, em
especial na última década, o futuro é promissor, embora acompanhado por
inúmeros desafios.
Em linha com as tendências dos
mercados emissores, nomeadamente nos segmentos de turismo de natureza e ativo, é
crucial uma redefinição e requalificação da oferta dos mercados de Walking
& Cycling existente, com planeamento e um novo desenho da rede de
percursos pedestres instituída, mas, também, com o alargamento destas
infraestruturas a outras unidades de paisagem do território, diversificando a
oferta e criando condições para um
reforço da estrutura económica
local, contribuindo para uma mitigação do efeito de overtourism registado em
alguns setores da serra. Neste domínio, não podemos deixar de considerar como
fundamental a criação e dinamização da Grande Rota da Serra da Lousã, com
expressão supramunicipal, capaz de assumir um efeito aglutinador de vários dos
patrimónios mais expressivos do conjunto desta unidade territorial, que se
assume como o principal cartão-de-visita da região, com o objetivo de ampliar a
estada média, aumentar os consumos na restauração e estabelecimentos similares,
mitigar o efeito de sazonalidade e incrementar a atratividade do território
para turistas especializados.
O desenvolvimento da atividade
turística dependerá, sempre, para além da capacidade de estruturar e dinamizar
a oferta, da qualidade dos serviços e bens prestados aos turistas, sendo
crucial uma aposta contínua na qualificação dos operadores e agentes
(públicos e privados) do sistema turístico, com uma crescente adaptação das
atividades prestadas às necessidades dos turistas que procuram o território.
Por fim, devemos destacar a
importância da capacidade de continuar o processo de desenvolvimento do
território e da atividade turística, de forma sustentável. Assumindo a
dificuldade de encontrar, a cada momento, as melhores soluções que sejam
capazes de responder às necessidades e expectativas de todos os intervenientes
no processo, o momento atual deverá ser de reflexão, discussão e planeamento de
ações que, para além de contribuir para uma maior sustentabilidade ambiental do
território, contribuam para a segurança de residentes e turistas, para a
criação de valor acrescentado e para uma melhor experiência dos turistas que
procuram a Lousã. A gestão e monitorização dos fluxos de procura, a análise da
sua experiência turística e a recolha das expectativas dos operadores será
essencial para dar início a um processo de planeamento capaz de responder a
estas e outras preocupações.
(Mestre em Geografia pela Universidade de Coimbra e doutorando em Turismo, Património e Território)
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